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Entrevista com Henrique Borlina, autor do livro “Com as borboletas, a noite”

Bacharel em Direito, Henrique Borlina lança seu primeiro trabalho na área literária na próxima sexta-feira (17) (foto: acervo pessoal)

Henrique Borlina de Oliveira nasceu em 12 de janeiro de 1974 na cidade de Votuporanga, em São Paulo, porque naquela época não havia maternidade em Valentim Gentil. Começou a se aventurar pelo universo da literatura com 12 anos, ainda na escola, e mesmo se tornando, tempos depois, Bacharel em Direito, nunca deixou de escrever. Na sexta-feira (17) ele realiza um sonho ao lançar seu primeiro trabalho na área literária, o livro Com as borboletas, a noite, no Anfiteatro “Professor Alceu Maynard Araújo” da Biblioteca Pública Municipal “Ricardo Ferraz de Arruda Pinto”, a partir das 19h30. A entrada é franca e aberta a todo o público.

Nessa entrevista você conhece um pouco mais sobre esse escritor, que embora seja novo no circuito literário, está trilhando um caminho promissor com enredos que fazem o leitor querer parar o que está fazendo na ânsia de descobrir os desdobramentos da história.

 

Há quanto tempo você escreve?

Escrevo desde os 12 anos de idade.  Nesta época lia as crônicas do livro de português e gostava de escrever a redação semanal que o professor impunha à classe.  O mesmo professor também nos dava como tarefa ler um livro por mês. Eu tinha muita preguiça de ler, então eu lia o título, o nome do autor e o enredo eu inventava. Acho que começou por aí o desejo de escrever minhas próprias estórias.

Como teve início seu gosto pela leitura? O que você costumava ler?

Comecei a ler compulsivamente algum tempo depois. Já tinha cerca de 15 ou 16 anos. E não parei mais de ler. Comecei a ler crônicas do Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drumond de Andrade. Depois cai na poesia. Li Drumond, Vinícius, Cecília Meireles, João Cabral de Mello Neto. Então passei para os romances. Fernando Sabino, José de Alencar, Machado de Assis. Depois conheci Gabriel García Marquez, Adolfo Bioy Casares, Kafka, Murilo Rubião, Jorge Amado, Ernest Hemingway, etc. Então passei a ler de tudo: As Mil e Uma Noites, José Saramago, Nelson Rodrigues, Júlio Cortázar, Dalton Trevisan, Daniel Defoe, João Antonio, Mia Couto, João Guimaraes Rosa, Manoel de Barros, Carlos Fuentes. São tantos os autores que gosto e que me ajudaram na minha formação literária que tenho por eles um sentimento de gratidão. Ah! Quase me esqueço, Juan Rulfo.
Fale um pouco sobre sua obra “Com as borboletas, a noite”

“Com as Borboletas, a Noite” é meu primeiro livro. É uma reunião de contos escritos de 1999 a 2010 de temática variável. A idéia é explorar a forma de se contar uma estória. Os oito contos do livro são o resultado da tentativa de conduzir o leitor até a beira do abismo e depois segurá-lo com a ponta dos dedos. Se consegui tal façanha não sei. Mas a idéia dos textos que compõem o livro é esta.
É a primeira vez que você lança um trabalho, que não seja de sua área de formação. Qual a sensação?

Este é meu primeiro livro de contos. Estou feliz pelo resultado, mas penso que poderia ter feito melhor. No entanto,  estou seguindo meu caminho, me dedicando a novos projetos. Meu romance “Os Primos” deve ser editado este ano. Minha novela “Enquanto Chovia” deve sair o ano que vem. E tenho alguns projetos para novos romances, mas ainda é muito cedo para se falar nisso.

Como foi o processo de seleção dos contos que fariam parte do livro?

O processo de seleção para a composição da obra foi simples. Guiei-me pela data dos contos e pela temática. Os contos têm como ponto de conversão a violência e a morte. Mas não só isso. O conto que dá nome ao livro é o único que não se trata nem de morte, nem de violência. O conto trata de uma estória de amor.

Por que a opção de dar ao livro o mesmo nome de um dos trabalhos que compõem a obra?

O livro tinha como título inicial outro nome. Mas depois, conversando com minha editora executiva, resolvi mudar o nome do livro para um dos contos. Optei pelo que aí está por ser mais poético e, penso, instigar a curiosidade dos leitores.
Os contos giram sempre em torno de crimes violentos e da figura da morte. A inspiração para escrever sobre um tema tão pesado vem da sua própria rotina de trabalho ou dos eventos do dia a dia?

A inspiração para escrever vem de todo e qualquer fato ou objeto. Por incrível que pareça a idéia de escrever sobre um cadáver veio da observação de um pé de mesa esmaltada com a tintura lascada. Daí veio toda a idéia do cadáver sobre a mesa, a mosca sobrevoando as pessoas (no conto “O cadáver e a mosca”). E então fui montando o enredo. Particularmente gosto da temática humana, universal. Gosto de escrever sobre gente, mesmo que apareça uma mosca para desviar a atenção, o foco está no comportamento das pessoas. Por outro lado, minha profissão de advogado me permite entrar em contato com muitas pessoas e situações inusitadas que podem ser aproveitadas (e são) na minha escrita, como a burocracia, a arrogância de alguns colegas, e também refletir sobre questões como punibilidade, liberdade, eficiência do serviço público. Minha profissão, neste aspecto, ajuda muito a pensar sobre os temas a serem tratados.

Porque escrever justamente sobre esses temas?

Como mencionado, procuro nas minhas estórias uma motivação universal. Quero que a estória faça qualquer pessoa refletir sobre o que está lendo, seja aqui em Piracicaba, em Valentim Gentil de onde venho, seja em Lisboa, Moçambique, ou nos Estados Unidos da América. Não escrevo por simplesmente escrever. Escrevo porque existem situações que reputo serem inesquecíveis. São situações em que o ser humano mostra-se fora do comum e estas situações me chamam a atenção e me levam a escrever.

Você se baseou em algum caso específico para escrever algum dos contos? O conto Anjo de gelo, por exemplo, remete ao caso do garoto que foi encontrado morto no freezer de um colégio da cidade na década de 80.

Nem tudo o que escrevo é baseado em fatos reais. Mas quase todos meus contos tem como enredo ou evento algo extraído da realidade. O conto “Hotel Real” tem um núcleo de realidade, mas o enredo, os personagens, são todos frutos da minha imaginação. O mesmo acontece com o “Anjo de Gelo”. Eu andava pensando em escrever sobre pedofilia, pois era um tema muito abordado na imprensa na ocasião da escrita. Então minha esposa, que é piracicabana, me contou o caso do colégio. Mas sem detalhes. Contou-me apenas que um menino havia sido encontrado dentro de um freezer. Daí criei todo o enredo e a estória surgiu.

Como é sua rotina para escrever? Tem um horário determinado, um canto para se sentar e pensar, ou escreve quando as idéias surgem? Você já começa a escrever com a idéia pronta ou o só tem o plano inicial e traça o resto da história durante o processo?

Minha rotina de escrita é muito simples. Tento sentar-me toda a noite para escrever. Na cozinha de casa mesmo. Depois do jantar. Às vezes faço algumas anotações de idéias que me surgem de repente. Aí pode ser a qualquer hora e em qualquer lugar, como na madrugada, deixou sempre um bloco de anotações para alguma ideia que me venha tirar o sono na madrugada. Mas escrever mesmo é só à noite. Nem que seja uma frase, um parágrafo, forço-me a escrever. Nem sempre é possível, mas procuro me esforçar neste sentido. E tenho a colaboração da minha mulher que me deixa tranquilo para escrever.   Nem sempre tenho ideia do que vou escrever. Tenho algum evento ou frase pensada, mas deixo que a escrita me leve. Nem sempre o plano inicial é finalizado. Então sempre fico pensando em como começar algum conto ou romance, o tema que vou tratar e a construção do personagem que vai viver aquilo, então é ir escrevendo. Acaba dando certo.

Quais são seus próximos projetos na área literária?

Como disse, tenho projeto de terminar o meu “Enquanto Chovia” e estou com algumas ideias que me tiram o sono, alguns personagens que sopram ao meu ouvido pedindo que eu escreva a estória deles. Mas estes personagens primeiro precisam me convencer a escrever sobre suas vidas.

O que você acha da literatura que vem sendo produzida nos últimos anos no Brasil? Quais seus autores favoritos?

Tem muita gente boa no mercado editorial brasileiro. No Brasil gosto muito do Dalton Trevisan, do Manoel de Barros, que estão em plena atividade. Nos últimos anos creio que Machado de Assis,  Jorge Amado e João Guimaraes Rosa são insuperáveis.   Mas meus autores favoritos não são brasileiros. É o colombiano Gabriel García Marquez, o argentino Adolfo Bioy Casares, o moçambicano Mia Couto e o mexicano Juan Rulfo. Também gosto de Faulkner. Acho que são estes daí. Se pensar mais um pouco aponto mais alguns, mas fico por aqui.  Estes são meus mestres.

Para terminar, que dica de leitura você deixa para os leitores do blog?

Ler qualquer obra dos autores mencionados é sempre prazeroso. Mas como você me pede uma dica, aí vai. Pedro Páramo, de Juan Rulfo, merece ser lido e relido várias vezes.

Entrevista: Clara Grizotto

1 comentário

Nenhuma menção ainda

  1. walter oliveira disse:

    Vá em frente cara, tu é bom mesmo !!!!! ASSIM É QUE COMEÇA, VÁ GAROTO !!!

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